quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Continue Andando..

Já fazia um tempinho que eu não escrevia, vou desenferrujando enquanto digito essa crônica, espremido entre os assentos do avião. As férias em Recife foram ótimas: muita praia, dias longos… A calmaria da varanda da casa do meu irmão, onde fiquei, me deu muito o que pensar, colocar as idéias no lugar.




É natural que esse baque chegasse uma hora ou outra: esse vai ser meu último ano na escola. Simples assim, para quem vê de fora, mas é um maremoto de pensamentos que te acometem quando você começa a lembrar,parece que foi ontem que tudo isso começou: você ainda brincando com os coleguinhas, chamando a professora de tia, reclamando da fila da cantina… Você começa a realmente a se tocar da presença (ou seria ausência ?), da força do tempo. Não tem como você não se pegar imaginando em flashes rápidos sua vida daqui pra frente: faculdade ? Casamento ? Família ? Vagabundagem ? De uma maneira ou de outra, como disse o cartunista Angeli em uma entrevista: quando você começar a dar cochilos cada vez mais longos e usar a calça por cima do umbigo, é a terceira idade,meu chapa. E não que alguém esteja necessariamente ansioso por isso, mas dizem que acaba virando um pensamento freqüente daqui em diante, mais ou menos como as monstruosas montanhas-russas na Flórida: no turning back.



É um daqueles últimos lugares que você ainda pode chamar de sítio, e um dos últimos lugares onde as crianças podem ver algo tão curiosamente inédito quando uma galinha viva, correndo solta. Enfim, é um daqueles lugares para onde as pessoas fogem vindas da cidade, mas não sem antes enfrentar 2 horas de trânsito da mesma. Todos os tios e tias, infinidade de parentes que se reúnem no sítio da família no fim de semana. E chega aquela hora, geralmente depois do almoço, que os mais velhos acabam se sentando nas mesinhas fora de casa. Digestão da mente. A conversa começa devagar, um cd tocando músicas antigas o suficiente para que só se lembre alguns versos… Acho que era Michael Sullivan cantando. Alguém se anima e traz uma garrafa de whisky (felizmente gosto demais de Pepsi para ceder ao álcool). Provavelmente entre meu pai e meus tios, o whisky, com seus 12 anos, era o mais jovem à mesa, o que me permitia participar do papo. Vendo um monte de crianças correndo num campinho um pouco distante, à nossa frente, começa o assunto, e as queixas, geralmente feitas com aqueles olhos de horizonte, de quem já viu as coisas bem de perto. 2 queixas, na verdade, duas coisas que sentiam falta na juventude, unânimes: jogar bola, e namorar muito, por assim dizer. Na verdade, generalizando as duas situações, a ausência de fôlego para ambas resume por si só. Enquanto isso, alguém reclama do cigarro do meu tio, que mata,as reclamações de costume. Ele diz com calma infinita que não tem pressa pra morrer. E quem tem ?



Cada vez mais um verso em especial do clássico My Generation do The Who gera controvérsias: “I hope I die before I get old” (“eu espero morrer antes de ficar velho”). Com avós (que costumavam nos falar para não fazer careta para que o rosto não ficasse pra sempre daquele jeito) aplicando botox, as pessoas vão tentando mascarar a idade pelo lado de fora. Mas o espírito envelhece. Ainda bem. Acredito que envelhecer é mais ou menos como quando jogava Detetive madrugadas à fio com meus irmãos: é ir descobrindo as coisas aos poucos à medida que se vai chegando ao fim do jogo,sob a sorte ou azar do giro dos dados. Pena que não dá pra escolher jogar como Sr. Mostarda, Srt. Rosa ou Dr. Black.



Toda essa coisa de abrir o envelope para descobrir os enigmas em Detetive (ou Scotland Yard, que era um pouco mais caro - e difícil) me lembra também a genial passagem final de O Sentido da Vida, filme do não menos soberbo grupo de comédia inglês Monty Python. Depois de vários esquetes mostrando passagens da existência, alguém abre um envelope contendo a resposta para o sentido da vida: “pratique esportes, coma verduras e o resto… bem, o resto são vários desenhos de pênis apenas para deixar a censura irritada”. Acredito que não interessa qual é o sentido da vida, mas viva de uma maneira, em sentido único.



E não se angustie se vez ou outra bater uma nostalgia, até o Capitão Gancho deve sofrer de Síndrome de Peter Pan de vez em quando. Keep walking. Só vai devagar no whisky. Filtro solar pode até ser importante, mas seu fígado também é.



 Postado por Pedro Malta http://mensagemnagarrafa.tumblr.com/


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